Desde 1967, o Dia Internacional do Livro Infantil comemora-se a 2 de Abril, dia em que nasceu Hans Christian Andersen (1805-1875), consagrado escritor dinamarquês, autor dos mais conhecidos contos infantis. Esta comemoração tem como objectivos fundamentais "inspirar o amor à leitura e chamar a atenção para os livros infantis." (in IBBY).
Era uma vez um conto que contava o mundo inteiro. Na verdade não era só um, mas
muitos os contos que enchiam o mundo com as suas histórias de meninas
desobedientes e lobos sedutores, de sapatinhos de cristal e príncipes
apaixonados, de gatos astutos e soldadinhos de chumbo, de gigantes bonacheirões
e fábricas de chocolate. Encheram o mundo de palavras, de inteligência, de
imagens, de personagens extraordinárias. Permitiram risos, encantos e convívios.
Carregaram-no de significado. E desde então os contos continuam a multiplicar-se
para nos dizerem mil e uma vezes: “Era uma vez um conto que contava o mundo
inteiro…”
Quando lemos,
contamos ou ouvimos contos, cultivamos a imaginação, como se fosse necessário
dar-lhe treino para a mantermos em forma. Um dia, sem que o saibamos certamente,
uma dessas histórias entrará na nossa vida para arranjar soluções originais para
os obstáculos que se nos coloquem no caminho.
Quando lemos,
contamos ou ouvimos contos em voz alta, estamos a repetir um ritual muito antigo
que cumpriu um papel fundamental na história da civilização: construir uma
comunidade. À volta dos contos reuniram-se as culturas, as épocas e as gerações,
para nos dizerem que japoneses, alemães e mexicanos são um só; como um só são os
que viveram no século XVII e nós mesmos, que lemos um conto na Internet; e os
avós, os pais e os filhos. Os contos chegam iguais aos seres humanos, apesar das
nossas grandes diferenças, porque no fundo todos somos os seus
protagonistas.
Ao contrário dos
organismos vivos, que nascem, reproduzem-se e morrem, os contos são fecundos e
imortais, em especial os da tradição oral, que se adequam às circunstâncias e ao
contexto do momento em que são contados ou rescritos. E são contos que nos
tornam seus autores quando os recontamos ou ouvimos.
E também era uma
vez um país cheio de mitos, contos e lendas que viajaram durante séculos, de
boca em boca, para mostrar a sua ideia de criação, para narrar a sua história,
para oferecer a sua riqueza cultural, para aguçar a curiosidade e levar sorrisos
aos lábios. Era igualmente um país onde poucos habitantes tinham acesso aos
livros. Mas isso é uma história que já começou a mudar. Hoje os contos estão a
chegar cada vez mais aos lugares distantes do meu país, o México. E, ao
encontrarem os seus leitores, estão a cumprir o seu papel de criar comunidades,
de criar famílias e de criar indivíduos com maior possibilidade de serem
felizes.
Francisco Hinojosa (trad.
Maria Carlos Loureiro) ( adaptação - Mariamaura)
autor HANS CHRISTIAN ANDERES
«Há muito, muito
tempo, vivia na Índia Antiga um rapaz chamado Kapil. Além de gostar muito de
ler, era extremamente curioso. tinha a cabeça cheia de perguntas. Por que motivo
o Sol era redondo e por que mudava a Lua de forma? Por que cresciam tanto as
árvores? E por que razão as estrelas não caiam do céu?
Kapil procurava
as respostas em livros de folha de palmeira escritos por homens sábios. E lia
todos os livros que encontrava.
Ora um dia estava
Kapil ocupado a ler quando a mãe lhe deu um embrulho e disse:"Arruma o livro e
leva esta comida ao teu pai. Já deve estar cheio de fome."
Kapil levantou-se
com o livro na mão e fez-se ao caminho. Enquanto percorria o duro e acidentado
trilho que atravessava a floresta, não parava de ler. De súbito o pé bateu numa
pedra. Tropeçou e caiu. Logo um dedo começou a sangrar. Kapil ergueu-se do chão
e continuou a caminhar e a ler, com os olhos colados ao livro. Não tardou a
bater noutra pedra e, uma vez mais, estatelou-se. Desta feita doeu-lhe ainda
mais, mas o texto escrito em folha de palmeira fê-lo esquecer as
feridas.
De repente, um
clarão surgiu e ouviu-se um riso melodioso. Kapil levantou os olhos e deparou
com uma formosa senhora, vestindo um sari branco. Ela sorria e uma auréola de
luz rodeava-lhe a cabeça. Estava sentada num cisne branco e gracioso. Numa das
mãos trazia um luminoso rolo de pergaminho. Com outras duas segurava um
instrumento de cordas chamado veena. Estendeu a quarta mão para o rapaz e
disse:"Meu filho, estou impressionada com a tua sede de conhecimento. Quero
dar-te uma recompensa. Qual é o teu maior desejo?"
Kapil pestanejou
de espanto. Diante dele encontrava-se Sarawasti, a deusa do estudo. No instante
seguinte, o rapaz cruzou as mãos, fez uma vénia e murmurou: "Por favor, Deusa,
dá-me um segundo par de olhos para os pés, a fim de que eu possa ler enquanto
caminho."
"Assim seja"- e a
Deusa abençoou-o. Tocou na cabeça de Kapil e a seguir desapereceu entre as
nuvens.
Kapil olhou para
baixo.Um segundo par de olhos brilhava-lhe nos pés e ele deu um salto de
alegria. Logo a seguir, fixou os olhos no livro e desatou a caminhar pela
floresta, apenas conduzido pelos seus pés.
Graças ao amor
pelos livros, Kapil cresceu e tornou-se um dos sábios mais ilustres da Índia. Em
toda a parte era conhecido pela sua imensa sabedoria. Também lhe puseram outro
nome Chakshupad, que em sânscrito significa"aquele cujos pés tem
olhos.»
MANORAMA
JAFA(tradução José António Gomes)
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